ORFANDADES - O destino das ausências.

A existência sofre agravos com o tempo. É feito inflamação. Com o passar dos anos o espinho na carne ofende a saúde. Na juventude ele incomoda menos. Por vezes nem mesmo dói. Serve como instrumental que coloca a alma em doce estado de subversão. Eu vivi assim. A fragilidade nos colocava nos braços uns dos outros . Noites e noites aconchegados em braços e colos que se saboreavam, temporários, imperfeitos, mas propensos ao gozo. O prazer nascia da imperfeição, do inacabado que rompia a pele, da carência que brilhava harmoniosa aos olhos dos que se despunham a amar. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.46).

Pode levar um tempo, mas o tempo vai levar tudo o que não te traz paz.

💃


A vida é uma melodia escrita no diário de Deus. Viver é dançar ao som dessa música de várias maneiras e de tempos em tempos.   David Saleeby

A ilusão de pensar que continuamos saudáveis num mundo doente.

"Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentimo-nos em mar agitado, implorando-Te: Acorda, Senhor!"    Papa Francisco





Orfandades - O destino das ausências.


Queria simplicidades. Coisa pouca. Colo de mãe, olhos atento a me fitar, como se nesse exercício simples de amor pretendesse me saber de cor.  Feições decoradas de tão olhadas, olhar de proximidade e vagareza, amor de entranhas e prolongadas carícias. Queria encosto de ombros aquecidos, mãos de mulher sobre minhas faces adormecidas, voz serena a confidenciar-me segredos, propondo postura, ensinando lisuras, registrando caráter. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.139).

Jamais perca o seu equilíbrio, por mais forte que seja o vento da tempestade.

Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Isaías 41:10

ORFANDADES - O destino das ausências

O sofrimento me ensina: a vida não se priva de caminhos. Abre clareiras quando pode. Feito água que descobre as fendas por onde caibam suas estruturas inacorrentáveis, fluentes líquidas. O todo do mundo adentrando o miúdo do meu corpo, fertilizando-me particularmente, escrevendo em minhas retinas as memórias que hoje funcionam como mosaico no qual me decifro. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.124).

Aprendi com Deus que ventos fortes nos fazem atravessar desertos como sementes, e voltamos flores.    Simonemonteiro

Pegadas na areia.

Meu filho, Eu te amo e nunca te abandonei. Os dias em que viste só um par de pegadas na areia são precisamente aqueles em que Eu te levei nos meus braços.

Bem-vindo, Outono! 🍁🍁


Num cantinho da floresta, o Outono toca flauta para que as folhas dancem.

ORFANDADES - O destino das ausências.

Eu quase me perdi na vida. Meus destinos sempre foram muito próximos, calculados em medidas estreitas. Matemática aplicada; coisa de quem não conhece o prazer que há no esquecimento das regras. Eu gostaria de ter conhecido o gosto de ficar perdida, mas não conheci. Sempre achada, posta no lugar esperado eu amargurei a vida inteira cuidando do mundo como se todo ele tivesse nascido de minhas entranhas. Eu sempre me ocupei de filhos que não são meus. Meu pai me obrigou a seguir esse caminho. Nem pude consultar o mapa. Ele o fez por mim. Deixou-me um roteiro de destinos poucos, e a eles me acostumei. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.116)

ORFANDADES - O destino das ausências.

Da minha janela, eu ainda olho o mundo. O barulho do trem é a trilha sonora de minha vida. Quando vem apontando com seu poder de acordar o povoado; quando vem apontado estilhaços e fumaça pelo caminho, eu ainda sinto a mesma emoção dos tempos de criança. Boto a cara na janela e deixo que ele faça o que sempre fez. Que vare a minha alma , que saia dos trilhos, que entre pela minha casa, que atravesse a minha vida e que me leve consigo. Quero estar preparada . Unhas pintada, olhos brilhantes, pés equilibrados em sapatos de salto e as esperanças embrulhadas nas mãos. É assim que irei. É certo que irei. Irei com a segunda alma, a do vestido de seda, vestido carmim, minha herança.(MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.71).

ORFANDADES - O destino das ausências.

Nossa casa era um recanto de mulheres tristes. Minha avó, minha mãe e minha tia. Tetas murchas por todos os cantos. Tetas sem leite, sem estradas. [...] (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.85).

Essência de vidro.


Quando os nossos pés descalços se colocam diante das duras pedras do sofrimento...
quando a fragilidade de nossa condição nos leva a trilhar o inevitável cominho das sombras...
quando a vida nos revela que somos portadores de uma essência de vidro...
é importante que a gente se livre da pressa e da facilidade das respostas prontas...
porque, diante da dor sofrida, mais vale um silêncio, uma pausa, que uma palavra inoportuna.
(MELO, Pe. Fábio De. Quando o sofrimento bate à sua porta, 2015, p.15).

DEMOCRACIA SOMOS TODOS NÓS!!!

Etimologia da palavra grega DEMOCRACIA:
Demo = Povo
Kratos = Poder


OFANDADES - O destino das ausências.


A ida ao mercado de Marcelino era sempre esperada. Era a hora de comer o sonho do dia. ficavam à mostra. Robustos, cobertos com açúcar de confeiteiro. Eram macios. O recheio farto de doce de leite recordava-me o paraíso que padre Justino nos prometia em seus sermões domingueiros. O mais saboroso que já experimentei na vida. Sonho. Nome sugestivo. O bom do sabor sugeria o irreal. No doce do confeito uma realidade se sobrepunha. A boca se enchia de utopias, esperanças e harmonias sobrenaturais. Depois da matéria,  o sonho. Mas a matéria estava imersa num batismo criativo. Matéria idílica. Farinha que recebeu o trabalho das mãos, o volume redondo, a fritura leve e o recheio doce que retirava o trigo de seu estado plebeu.  (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p. 25).
   

Sem escatologia.

A desproteção hoje tão evidente teve início com o parto, no momento em que foi decepado o cordão que me prendia ao conforto de minha matriz. Nascer é receber a imposição da sobrevivência. A simbiose que antes me supria de sangue, carnes e ossos teve o seu fim. O ser que até então se escondia na penumbra da cidade materna foi arrancada e exposta à luz. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p. 45).

Naquele canto do mundo.

Lá dentro a casa vivia, pairava num tempo não corrido, acumulado, porque visto com olhos embrulhados de distâncias. Adentrou o antigo mundo com calma. Os móveis rústicos e bem cuidados pareciam sofrer de agonia. Estavam imobilizados no destino de serem heranças. Resguardavam as memórias de seu tempo de menino. O sofá florido, sofrido, estava distante da primavera que insinuava. O tecido desbotado lhe sorria. A cristaleira sem cristais permanecia como antes. Alguns poucos copos de vidro, inelegantes, sem charme, pintados com florzinhas miúdas ocupavam as estantes superiores. Nas inferiores, estava a louça nunca usada, guardada como se fosse um tesouro intocável, presente de casamento que os pais se orgulhavam de ter recebido  de um padrinho importante, desconhecido de todos. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.63).

Amor de sol poente.

José é um enviado de Deus. Chegou quando minhas esperanças agonizavam no mesmo ritmo que também agonizavam as vicissitudes das margaridas que resguardavam a entrada principal da casa. Eu comecei a morrer no jardim. Já não tinha forças para o cuidado minucioso que a jardinagem requer. José chegou na hora certa. Esticou a cruz em direção ao demônio que me seduzia e o exorcizou de minha vida indefesa e precária. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres de aço e de flores, 2015, p.154, 155).


Antiguidades V.

Sou antiga que só. Ainda prefiro a madeira nobre e sua dureza permanente aos compensados e suas transitoriedades. Gosto dos guarda-roupas que abrigaram outras épocas. Roupas que vestiram corpos há muito tempo sepultados. Móveis vividos, especialistas em humanos e suas relações. Neles os cupins não imperam. Apenas espiam orgulhosos, desejosos, mas incapazes. Móveis herdados, legados de gerações passadas e testemunhas de outros tempos. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres de aço e de flores, 2015, p. 63).

Mulheres de aço e de flores.


Mulher, ó mulher, pudesse eu recomeçar este mundo inventaria de criar-te primeiro, e somente depois retiraria Adão de tuas costelas.  - Pe. Fábio de Melo -

De esperança e de amor.


Vez ou outra ponho a cara na janela para ver se tem alguém se aproximando da minha porta. Enquanto houver vida, as possibilidades existirão. Cada uma se ocupa do que pode. Eu ainda me ocupo das mesmas esperanças que as mulheres de Atenas. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres de aço e de flores, 2015, p.141).

Mulheres de Atenas, Chico Buarque

Orfandades o destino das ausências.

A porteira  que nos separava da estrada era tristonha. Desafiando as regras da secura, crescia por entre suas ripas e rama teimosa de uma erva daninha que aprendera a resistir aos castigos do calor. Nela eu me reconhecia. Era minha sina recobrir-me com os verdes rastros de esperança que o sol não conseguia anuviar. A porteira apartava-me do mundo, dava-me à vida que se esculpia na matéria retorcida de minha morada simples, lugar de onde eu via a estrada sempre coberta de poeira, saudades e esquecimentos. (MELO, Pe. Fábio De. Orfandades o destino das ausências, 2015, p.83).

Os limites do mundo

Os limites do mundo os meus pés não ultrapassam, mas o que de mais alto existe, minha alma alcança. - Fábio de Melo -

Quando o sofrimento bater à sua porta.


Sofremos porque não podemos tudo o que queremos. Sofremos porque temos um corpo que está condicionado aos limites de sua estrutura e de suas possibilidades. Sofremos porque somos afetados constantemente por situações que nos desinstalam e nos entristecem. Sofremos porque não conseguimos abarcar a totalidade dos fatos, ou porque nem sempre podemos compreendê-los. Sofremos porque não encontramos as respostas de que necessitamos ou porque nos deparamos com respostas que nos assustam. (MELO, Pe. Fábio De. Quando o sofrimento bate à sua porta 2015, p.60).

Tempo de esperas.


A vida é o lugar das Revelações divina. É na força da história que descobrimos os rastros do Sagrado. Não há nenhum problema em descobrir nas realidades humanas algumas escadarias que possam nos ajudar a chegar ao céu. Mas não podemos pensar que a escadaria é o lugar definitivo de nossa busca. Parar os nossos olhos no humano que nos fala sobre Deus é o mesmo que nos privar do direito à transcendência. (MELO, Pe. Fábio De. Tempo de esperas, 2015, p.81).

Quando o sofrimento bate à sua porta.

O sofrimento parece conferir um selo de qualidade à vida, porque tem o dom de revesti-la de sacralidade, de retirá-la do comum e de elevá-la à condição de sacrifício.
Sacrifícios e sofrimentos são faces de uma mesma realidade. O sofrimento pode ser também reconhecido como sacrifício, e sacrificar é o ato de retirar do lugar comum, tornar sagrado, fazer santo.
Esta é a mística cristã a respeito do sofrimento humano. Não há nada nesta vida, por mais trágico que possa nos parecer, que não esteja prenhe de motivos e ensinamentos que nos tornarão melhores. Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixamos demorar em nós. (MELO, Pe. Fábio De. Quando o sofrimento bate à sua porta, 2015, p.18).

🙌🙏


Deus 
sempre sopra algo bom
em nossa direção...basta você 
sentir esse toque... Seja 
na alma ou no coração!

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ORFANDADES - O destino das ausências.

É um livro que tem uma narrativa envolvente, Pe. Fábio com seu olhar poético sobre as ausências humanas, conta histórias de personagens e lugares atingidos pelos misteriosos territórios da solidão e do desamparo existencial.
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