Da minha janela, eu ainda olho o mundo. O barulho do trem é a trilha sonora de minha vida. Quando vem apontando com seu poder de acordar o povoado; quando vem apontado estilhaços e fumaça pelo caminho, eu ainda sinto a mesma emoção dos tempos de criança. Boto a cara na janela e deixo que ele faça o que sempre fez. Que vare a minha alma , que saia dos trilhos, que entre pela minha casa, que atravesse a minha vida e que me leve consigo. Quero estar preparada . Unhas pintada, olhos brilhantes, pés equilibrados em sapatos de salto e as esperanças embrulhadas nas mãos. É assim que irei. É certo que irei. Irei com a segunda alma, a do vestido de seda, vestido carmim, minha herança.(MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.71).