Felicidades impróprias II


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Ando cansada de ser sozinha. Lourival acha que ser marido é só pagar as contas. Nem meu fogo ele anda apagando. Desabafei isso com a Marinalva. Imediatamente ela se pôs a chorar. Nem pude continuar meu desabafo. Confidenciou-me que há mais de quatro anos o Rufino não encosta o dedo nela. Fiquei admirada. Logo Marinalva, que ainda está tão bonitona! (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.107).


           

Uma mulher de palavra.

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Há uma redenção no tempo. Broto miúdo de felicidade que, descobrindo uma fresta no telhado de minha vida, de vez em quando vem iluminá-la. Envelhecer é despedir-se do tempo. Alforria que a assinatura de Deus alcança e que minhas mãos receberam agradecidas. Direito de perder a hora, esquecer os dias. Ignorar o futuro e fazer demorar o presente. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.57).

           
Troco Imóvel

Alma em desorfem I.

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Olho para o passado e vejo meus fragmentos nos destinos de minhas passagens. registram-se em paredes vazias, camas desfeitas, praticas que sofreram reformas, casarões que ganharam outras serventias. A vida se desloca com voragem. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.179).
           

A lei do amor.

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Perfeição é coisa de grego. Sou mineira demais para querer as características dessa arquitetura. Os traços que desenham minha alma são cheios de curvas imperfeitas. O perfeito é amórfico, só existe na projeção utópica. Eu sou real. O nariz sangrando é meu bilhete de amor. Que leia quem puder. Que leia quem souber. Outra coisa não considero mais urgente. Ou estanca o sangue ou morre de pavor. Amor é a mesma coisa. Só é possível na condição de suporte. Duas partes que se atraem, mas que também se rejeitam. Lei esquisita que não sei quem foi que escreveu. Só sei que vivo sob suas rédeas. Para sobreviver, faço o que posso. Obedeço. Quando o amor me chama, eu vou. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.175)

Troco Imóvel

Amor inacabado.

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É sina da pedra ser duradoura. Carrego nos ombros este destino. Aliança no dedo e pedra no coração. Vou arrastando este destino de não me perder da promessa. Enquanto isso, eu mimo a vida no que posso. Meu projeto é maior. Cansei de ver a desordem que o tempo me causa. O acúmulo dos dias é um desconforto que prefiro esquecer. Estou fazendo um investimento nobre. Estou me preparando para ficar eterna. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.162)

           

A mulher e o tempo. ⏳

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Eu e o rio. Sua calma funciona como uma espécie de torpor, esquecimento de mim. Fala oculta que me negava intuir os conflitos da profundidade. Queria o rio tanto quanto queria a mim. Querer sem ansiedades, sem pressas, sem tropeços de enganos. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.124)
           
Troco Imóvel


Felicidades impróprias.

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Eu gosto mesmo é de felicidades impróprias. Só elas são capazes de deslocar minha vida, mudar o rumo, o prumo. As costumeiras, aquelas que encontro nos meus lugares e que são próprias dos meus dias, essas não me provocam muita coisa. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.107)

           

Amor que amansa.

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Mas na verdade não demorou a amanhecer em nossos quintais. O tempo foi respondendo sem anseios. Aliás, o tempo responde tudo . O fato é que mais tarde pude intuir que comadre trabalhava no silêncio, assim como a aranha faz crescer a sua teia.[...] Atado a um laço invisível que tinha as pontas nas mãos da frágil Efigênia, o macho aparentemente indomável se aninha como se fosse um gatinho aos pés da domadora. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.38)

           

A compulsiva I 👗👠

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"Engraçado, mas há compras que preciso confessar. Não resisto. São tão afetivas que as comparo a um ato de adoção. E como se houvesse um vínculo entre o objeto e meu coração. Já experimentei muito esse sentimento, sobretudo quando se trata de artigos de decoração. Tenho uma coleção imensa de porta-retratos. É como se fossem meus filhos. Eu os esparramos pela casa e deixo que eles ocupem os espaços vazios." (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.20 )
           
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Amor profilático I. 💖

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A vida de um amor profilático deve ser assim. Coisas lindas costurando as feiuras do dia, cobrindo de bordados cheios de minúcias os avessos e suas ranhuras. Amor que recobre de brilho a estrutura opaca da existência e transforma o cotidiano da vida num acontecimento único, fato que não merece cair no esquecimento. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.14)
           

Meus partos foram outros.

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À sombra dos sonhos humanos, também escrevi histórias. Descobri a graça de partejar gente, fazer virá-los outros nomes, outros rostos já que da minha carne nenhuma outra carne veio à luz. O desejo da maternidade não era suficiente para que as trompas produzissem as sementes necessárias. Solitária com meus ovários inférteis restaram-me algumas possibilidades: inventar pessoas, criar personagens, soprar ar de literatura nas narinas imaginárias. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.58,59)
           

Os pesos que as mulheres suportam são outros II.

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Outro casamento? Outro calvário? Não quis. Bastou-me a subida sem Cirineu. O resto foi canto de Verônica que não ouvi, lenço que deve ter ficado caído pelas ladeiras de minha via-sacra. Não Voltei pra buscar." (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.102)
           
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Os pesos que as mulheres suportam são outros I.

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Só suportei as agruras desse calvário porque assimilei bem a minha condição de degredada filha de Eva. Feliciade? Só as inesperadas. Uma chuva em fim de tarde, o vento frio na janela, o chá de hortelã com biscoito de manteiga. (MELO, Pe.Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.102)

           

Efigênia.

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Mulher que sabe o que quer não se dobra, mas redobra o cuidado pra não virar quase homem, esquecer o que sabe sobre a ancestral conduta que lhe permite administrar o mundo sem parecer que o faz.
Mulher que é mulher faz da fragilidade o seu escudo. Seu grito de guerra é manso. É no seu olhar que descansa o remanso do mundo.
A comadre Efigênia é um caso assim. Munida de destreza invejável, soube muito bem utilizar o poder que os seios e ovários lhe atribuíram. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.37)

           

A convertida 🙇

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Meu Deus! - rezei, mergulhada em pavor! Assombrada, olhei-me no espelho da penteadeira do quarto. Contemplei-me com demora com intuito de distrair-me daquele ímpeto de bom samaritanismo."Um batom nos lábios e quem sabe esse espírito de freira abnegada me abandone" pensei. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça. 2015, p.29)
           

Ediolinda

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Fico intrigada com o modo como ela ajeita as desordens do mundo dentro da alma. Pudera eu também ser assim! Perco o prumo por tão pouco. Desvio-me da felicidade por qualquer sopro de vento. Amarguro-me por mínimas razões, perco o sono, perco a paz. Não tenho todas as graças de Ediolinda. Não tenho seu riso, não tenho sua aura, nem suas esperanças. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.189)            

Silêncio 🙇

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O silêncio de Deus não é esquecimento, mas ensinamento.
           

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O segredo do jardim

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Chuva? 💧


Chuva? Que nada!
 São só  minhas lágrimas caindo. 💧


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