- Ninguém se esconde por acaso, meu amigo. Cada pessoa promove a coerência que pode. Não é sem motivo que alguém resolve se esconder do mundo. E para isso eu vivo. Para encontrar os que se escondem. Minha missão é junto dos que enfrentam a solidão do esconderijo. É lá que eu preciso chegar. São os escondidos que mais precisam de mim. Zaqueu era um deles. Tão logo ele ouviu minha voz e entendeu meu pedido, desceu da árvore e veio andar ao meu lado. (MELO, Pe. Fábio De. O discípulo da madrugada, 2015, p.162).
Quando o sofrimento bater à sua porta.
Perdemos boa parte da vida com sofrimentos desnecessários, resultados de nossos desajustes, precariedades e falta de sabedoria. São os sofrimentos que nascem de nossa acomodação, quando, por força do hábito, nos acostumamos com o que temos de pior em nós mesmos.
Perdemos a oportunidade de saborear a vida apenas porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam. Invertemos a ordem e a importância das coisas. Sofremos demais por aquilo que é de menos.
E sofremos de menos por aquilo que seria realmente importante sofrer um pouco mais.
Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos. O mesmo acontece na nossa vida. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação.
(MELO, Pe. Fábio De. Quando o sofrimento bater à sua porta, 2016, p.17).
O limite como possibilidade.
Defeitos podem ser sementes de virtudes, se bem cuidados. A beleza de um jardim depende da qualidade do solo. Estercos são realidades precárias, mas são eles que potencializam as plantações. O precário que não vemos é o que impulsiona o crescimento da rosa que admiramos. Nesse caso, o que era precário virou possibilidade. Compreendemos, dessa forma, que podemos sofrer menos com os nossos limites. Acredite. Muitas situações que nos fazem sofrer perderiam o seu poder sobre nós, caso transformássemos o limite em possibilidade. Simples? Sei que não é. Se fosse simples, o mundo estaria repleto de pessoas felizes e equilibradas. (MELO, Pe. Fábio De. Quando o sofrimento bater à sua porta, 2016, p.49).
É sagrado viver.
Tenho diante de mim um verso de Helena Kolody:"Meu nome, desenho a giz no muro do tempo:. Choveu, sumiu". A temporalidade é a matéria-prima do seu lamento. Um misto de dor e contentamento me invade de maneira descompassada. Mas essa invasão me acalma. O verso simples da mulher paranaense, solteira e sem filhos é capaz de me levar a pensar a vida feito muro em que se escreve a giz. (MELO, Pe. Fábio É sagrado viver, 2018, p.97).
ORFANDADES - O destino das ausências.
Vez ou outra, minha alma embriagada de tristeza e arte desbravava estradas como se possuísse os poderes ocultos dos heróis mitológicos que cedo conheci. Eu me enchia de sorrisos marotos e, longe de minhas atrofiadas coragens humanas, viajava pelos corredores das cidades que nunca foram pisadas por meus pés. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.126).
O discípulo da madrugada.
Acompanhei os passos do condenado porque a Ele eu estava atado. Nele eu me reconhecia, como se uma sutura existencial nos configurasse parte de uma mesma trama. Sim, Naquele Galileu que arrastava a cruz pelas vielas da cidade eu também estava. Dois homens num só. Mas distanciados por diferença. Enquanto um deles tinha o corpo exposto ao escárnio da multidão e sofria publicamente as consequências da ira humana, o outro estava sob o manto de seu medo. Dois condenados. Um pelo povo. O outro por si mesmo. (MELO, Pe. Fábio De. O discípulo da madrugada, 2015, p.85).
É sagrado viver.
Gosto de caminhar sem destino. Aprendi que andar faz esquecer os problemas. Esquece porque lembra outras coisas. Eu prefiro as tardes. Gosto ver as cores se descolorindo, indo sempre. Gosto daquele tom de melancolia que toma conta da lagoa, onde os dejetos cumprem a triste missão de poluir a vida, enquanto nós, humanos, despoluímos a mente. (MELO, Pe. Fábio É sagrado viver, 2018, p.38).
ORFANDADES - O destino das ausências.
O aguaceiro da tarde não lavou a minha alma. A secura continua. Quem me dera ter uma trinca na carne que abrisse beira e encaminhasse o dilúvio para dentro de mim. Quem sabe assim eu veria desmoronar as estruturas que o sofrimento sedimentou. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.27).
ORFANDADES - O destino das ausências.
Os sorrisos eram poucos. As alegrias também. Mesmo assim, o cheiro da vida insistia em varar os entrelaces da morte. Chegava feito vento manso, quebrando os malogros adâmicos da condição humana, emprestando brilho, ainda que temporário, ao coração que se comprimia nos estreitos labirintos do meu corpo. Era nele que as vozes do destino gritava a ordem peremptória: viver, sim, viver, ainda que fosse para sofrer a condenação de ser o território onde a existência praticava a inelegância de armar suas tendas, esparramando suas rendilhas, mesmo quando minha vontade não acenava permissão. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.123).
ORFANDADES - O destino das ausências.
O tempo passou. Ninguém retornou para ver-me. É do alto desse calvário que enfrento sozinha que ouso gritar: tudo está consumado! Gosto desta frase. O sofrimento de Cristo nela descansa. Ela cessa a via crucis, a ladeira penosa, o estreito caminho da morte. Tudo está consumado! As palavras deslizam da boca que sofre gerando um suspiro profundo, derradeiro. Descansa Cirineu. Faz com que ele retorne à sua casa para reencontrar a mulher e embalar as crianças. Cala o canto de Verônica. Devolve-lhe as falas simples que ordenam as regras da casa. Dispensa as mulheres chorosas Faz com que reencontrem suas rotinas domésticas, que coloquem para dormir os meninos curiosos que se entretinham com o sangue rubro do crucificado. O que tenho da vida é este casarão repleto de memórias que não sei carregar sozinha. Inadequada. Sou assim. O tempo ido não se foi daqui. Insiste em prevalecer. Cimenta sobre mim o consumado que à materialidade pertence, mas ao mesmo tempo me empurra para o inacabado da alma, para esse recanto humano onde as horas mortas ainda movimentam seus ponteiros. ( MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.102).
Antes de chorar pelos limites que possui, antes de reclamar de suas inadequações e fadar o seu destino ao fim, aceita o desafio de pousar os olhos sobre este estado de fraqueza e ouse acreditar que, mesmo em estradas de pavimentação precária, há sempre um destino que poderá nos levar ao local onde o sol se põe tão cheio de beleza. Fábio de Melo
Dia Mundial de Conscientização do Autismo - Anjo azul.
AUTISMO é apenas uma maneira diferente ver o mundo, com jeito único de ser.
COMO É A CLASSIFICAÇÃO DE CORES NO AUTISMO?
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