ORFANDADES - O destino das ausências.

O tempo passou. Ninguém retornou para ver-me. É do alto desse calvário que enfrento sozinha que ouso gritar: tudo está consumado! Gosto desta frase. O sofrimento de Cristo nela descansa. Ela cessa a via crucis, a ladeira penosa, o estreito caminho da morte. Tudo está consumado! As palavras deslizam da boca que sofre gerando um suspiro profundo, derradeiro. Descansa Cirineu. Faz com que ele retorne à sua casa para reencontrar a mulher e embalar as crianças. Cala o canto de Verônica. Devolve-lhe as falas simples que ordenam as regras da casa. Dispensa as mulheres chorosas Faz com que reencontrem suas rotinas domésticas, que coloquem para dormir os meninos curiosos que se entretinham com o sangue rubro do crucificado. O que tenho da vida é este casarão repleto de memórias que não sei carregar sozinha. Inadequada. Sou assim. O tempo ido não se foi daqui. Insiste em prevalecer. Cimenta sobre mim o consumado que à materialidade pertence, mas ao mesmo tempo me empurra para o inacabado da alma, para esse recanto humano onde as horas mortas ainda movimentam seus ponteiros. ( MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p.102).


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ORFANDADES - O destino das ausências.

É um livro que tem uma narrativa envolvente, Pe. Fábio com seu olhar poético sobre as ausências humanas, conta histórias de personagens e lugares atingidos pelos misteriosos territórios da solidão e do desamparo existencial.
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