A ida ao mercado de Marcelino era sempre esperada. Era a hora de comer o sonho do dia. ficavam à mostra. Robustos, cobertos com açúcar de confeiteiro. Eram macios. O recheio farto de doce de leite recordava-me o paraíso que padre Justino nos prometia em seus sermões domingueiros. O mais saboroso que já experimentei na vida. Sonho. Nome sugestivo. O bom do sabor sugeria o irreal. No doce do confeito uma realidade se sobrepunha. A boca se enchia de utopias, esperanças e harmonias sobrenaturais. Depois da matéria, o sonho. Mas a matéria estava imersa num batismo criativo. Matéria idílica. Farinha que recebeu o trabalho das mãos, o volume redondo, a fritura leve e o recheio doce que retirava o trigo de seu estado plebeu. (MELO, Pe. Fábio De. ORFANDADES - O destino das ausências, 2015, p. 25).