A mulher e a velhice I.

https://www.vitoriagifs.site/2019/11/a-mulher-e-velhice-i.html
Não queria ser novelo. Queria ser novela! As mulheres das novelas não envelhecem. Brincam de ser mulheres de maridos, mas não são. Apagam-se as luzes do set e estão solteiras de novo. Eu não queria ser a atriz. Essa também tem marido! Eu queria ser a personagem, aquela que morre com o apagar da luz e que volta à cena quando querem os autores. Eu me escreveria. Fina, má e determinada. Mas só de vez em quando. Por vezes eu seria santa e abnegada: solitária convicta. Castidade criativa. Quereria o instante de cada felicidade, e nele poria minha demora. O deleite sem pressa, sem feijão precisando da panela de pressão para que não seque. A vida de pintura, unhas vermelhas, cabelos laqueados e armados como se fosse um circo. Eu, feita de luzes e aplausos. A expressão sem marcas, sem rugas nos cantos da cara. O sorriso livre de cáries indesejadas. A personagem sempre linda, pronta para uma atuação perfeita. A voz determinada expulsando o marido da sala como se fosse um cão que precisa aprender a obedecer . - Sai daqui! - O grito forte, quase  igual ao de Dom Pedro às margens do Ipiranga, proclamando a independência do Brasil. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.103,104).



AO MEU BLOG

Quem sou eu

Minha foto
Araçoiaba da Serra, SP, Brazil

Minha Playlist

Ver Toda Playlist

ORFANDADES - O destino das ausências.

É um livro que tem uma narrativa envolvente, Pe. Fábio com seu olhar poético sobre as ausências humanas, conta histórias de personagens e lugares atingidos pelos misteriosos territórios da solidão e do desamparo existencial.
Ver Todos Livros